Não é intuito deste pequeno artigo tratar extensivamente o tema acima proposto, nem tampouco polemizar indiscriminadamente este ou aquele ministério. Contudo, a proposta é um abrir de um coração preocupado com os rumos da história, especialmente a história da pregação da Palavra de Deus, ponto central na divulgação e no ensino do Evangelho de Jesus.
Vivemos, no campo da filosofia, a transição de uma era. A cansada e racional modernidade, lentamente dá espaço e vez a avassaladora, desconstrutora, confusa e sincrética pós-modernidade. Desde os campos de estudo mais herméticos aos mais ecléticos, a pós-modernidade tem prosposto uma nova leitura da episteme, que é, ao mesmo tempo, impessoal e improdutiva.
O ser humano, foco central da modernidade, agora é impessoal. O que ele sente é mais importante do que ele pensa. Fator resultante desta afirmação é a forma inescrupulosa com que o mercado tem tratado a emoção humana, ao ponto de manipular sentimentos com vistas no lucro que se pode obter desta ação. O penso logo existo de Descartes foi substituido pelo novo sinto, logo existo. Assim, os sentimentos tomaram o lugar da razão.
O entrave intelectual desta questão é, que, mesmo a modernidade, em sua plena capacidade de produção lógica e intelectual não foi capaz de responder ao drama central do ser humano: Por que e para que existo?
A reboque deste conceito supracitado está o papel da Igreja Cristã, que vem, ao longo das eras, incansavelmente, pregando o evangelho pelos quatro cantos do mundo. Seguindo a pista de que toda a exegese não é livre de premissa, entende-se que toda a pregação é influenciada por seu momento sócio-histórico. John Wesley, na velha Inglaterra, revolucionou a Igreja Anglicana com seu estilo homilético e sua estratégia ministerial. Outros grandes pregadores foram ícones da Igreja de Cristo em seu momento histórico e nos falam até hoje. Spurgeon, Mood, Finney, Jonathan Edwards, Loyd Jones, entre tantos e inumeráveis outros, mesmo que influenciados pela cultura, pela arte, pela sociologia, economia, política, e incontáveis outros fatores externos, tiveram, comprovadamente, êxito na tarefa de pregar o evangelho centralizado na pessoa de Jesus.
Este terreno é um campo minado, mas é preciso seguir em frente, claro, com um detector de metal em mãos. Os pregadores pós-modernos estão submersos completamente na cultura que os cerca. Assim, se a mentalidade capitalista, mercadológica, midiática e imediatista os aborda a todo instante, a premissa que será utilizada na vazão verbal e na prática ministerial destes será proporcional. Este caminho nos mostra, evidentemente, que a pregação, quando distante do contato com uma exegese bíblica, doutrinária e histórica, centrada na pessoa de Jesus, pode reproduzir a mentalidade pós-moderna, disfarçada de um evangelho de araque, longe de Deus e do Seu Reino.
A decepção de se ver modelos esquizofrênicos de pastores inconsequentes, dinheiristas, maquiavélicos e manipuladores só não se torna dezesperadora pelo fato de que a Soberania de Deus permite aos preocupados encontrarem descanso no processo e continuarem, mesmo que na total contra-cultura eclesiástica, por incrível que pareça, pregando o puro, simples, confrontador e sublime Evangelho de Jesus.
Esta semana mais um drama alcançou meu coração. Agora estou desabafando. O auditório J. Kennedy Jr. da Governament School da Harvard University em Cambridge, estava lotado para ouvir o Pr. Rick Warren. Seu curriculum é impressionante. Autor do livro mais vendido no mundo durante dois anos consecutivos, idealizador de uma estratégia que tem influenciado Igrejas de mais de 120 países a remodelar seu jeito de ser e de pregrar o evangelho, além de outros importantes adjetivos.
Todos se prepararam para ouvir o Pastor falar de política. A tribuna era apropriada, o público seleto e a repercussão garantida, tanto que está se falando do fato. Qual será a resposta deste homem de Deus para a solução dos dramas políticos mundiais? Ouvi muitas coisas, tais como, diálogo, espiritualidade, religião, cultura, bla, bla, bla. Pensei: e Jesus? Cadê?
Quando criança, aprendi que o próposito da vida é viver para a glória de Deus. Tudo o que for feito deve ser efetuado para a glória de Deus apenas. Desde as pequenas e domésticas tarefas, até mesmo as diretrizes maiores e conceituais da existência devem convergir parar este ponto comum: Para Glória de Deus.
Lembrei-me de Josué diante da fortificada e intransponível Jericó. Havia um empenho da parte de Deus para com Seu servo: entreguei na tua mão Jericó (Josué 6.2). O papel de Josué foi conduzir o povo no processo estabelecido pelo próprio Deus. Ele não politizou, discursou, ponderou, diplomatizou ou negociou. Josué glorificou a Deus. Adorou ao Senhor dos senhores. Jericó? Caiu.
O mundo precisa de um propósito. O ser humano precisa ser transformado em sua vida interior, para que sua sede seja saciada e seu coração encontre paz. Qual é o meio para isso ocorra? É a pessoa de Jesus.
A sociologia, a psicologia, a política, o dinheiro, os sistemas e propostas que se têm, são insuficientemente soberbos para transformar o ser humano. Pregam de fora para dentro. Do resultado para o conceito e da prática para a reflexão. No entanto, o evangelho implode a velha vida de dentro para fora, refazendo, ou melhor, re-nascendo o ser humano para uma nova mentalidade centrada na pessoa de Cristo.
O nó cego, que está para ser desatado pelos dispostos a uma boa briga, é que a Igreja, nos moldes propostos pela bênção pós-moderna, se transformou em um lucrativo negócio, capaz de projetar mundialmente seus representantes, os pregadores, diga-se de passagem. Quem vai falar que um homem que vendeu mais de 20 milhoes de livros que falam sobre uma vida com propósito, foi ao centro intelectual do mundo, subiu ao púlpito, falou e não citou sequer o Nome de Jesus, Senhor da coisa toda? Quem teria coragem de peitar uma briga com um pastor, que em Nome sei la do que, compra uma casa de milhões de dólares? Quem vai denunciar?
Como diria o velho e bom Chicó, personagem de Ariano Suassuna: Se sei, não sei, só sei que foi assim. Os motivos pessoais que movem estes homens não competem e não vêm ao caso. O fato central está na procura pelo verdadeiro evangelho, preocupado com o empobrecido, com a viúva, com o fraco e com o perdido. Aquele que louva a atitude interior em detrimento do falso aparente. Aquele que condena o fariseu que ora e oferta nas esquinas e salva, indiscriminadamente a prostituta da morte.
A Igreja de Cristo não é um business, e tampouco o altar da pregação um palco, muito menos os pregadores atores e os irmãos espectadores. Se fosse palco e o teto fosse de lona colorida, seria circo. Mas não é. Como diria dona Loide: A coisa é séria. O sangue de Cristo está sobre a Igreja. Há um selo eterno entre o Cordeiro e sua Noiva, imaculada, imarsecível e adornada. O Deus Eterno tocou o temporal através de seu filho amado, e somente este fato deve preencher todos os assuntos, os tópicos e subtópicos de todos os debates, discursos e proclamações, pois o que ressussitou é digno de louvor para todo o sempre.
Taí, indigesto, profético, medíocre, sei lá....é um desabafo de um apaixonado por Cristo e pela Igreja.
Soli Deo Gloria
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teste
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