Friday, February 11, 2011

A COMUNIDADE DOS SONHOS

Nova Esperança sempre foi um lugar lindo de viver. Morávamos em um apartamento simples, no segundo andar do estabelecimento gerenciado por nossa família. A minha primeira infância, até hoje, ainda parece ter sido um sonho, destes que dignos de serem transformados em livro ou novela. Muitos lugares, pessoas e momentos especiais ainda me surpreendem ao revisitarem meus pensamentos hoje em dia.

Fomos educados presbiterianos. Íamos à Igreja todas as quartas, para o estudo bíblico, aos Domingos de manhã para a a Escola Bíblica Dominical e Domingos à noite para o Culto. Me lembro de D. Terezinha, esposa do Rev. Guaraciaba Araújo, dirigindo os cânticos congregacionais. Ela pedia para que as pessoas escolhessem o hino a ser cantado, e qualquer que fosse, certamente cantaríamos. Eu ficava intrigado, pensando como ela poderia conhecer todos aqueles cânticos? Será que um dia ela iria dizer que não conhecia algum dos hinos? Seria improvável! Coisas de criança.

Certo dia, minha Avó Renita, uma das mulheres mais impressionantes que conheci, dada sua fé e firmeza no Senhor, começou a me incentivar a pedir os hinos na reunião. Ele sussurrava para mim, peça o Hino 184. Era assim que se pedia os hinos, pelo número em que se encontravam no hinário. D. Terezinha sempre dizia, claro filho, cantemos ao Senhor. Para mim, dizer aqueles números era uma grande aventura. Era um sentimento genuíno de que, mesmo ainda criança, eu poderia fazer parte daquela reunião tão importante para os meus pais. Minha avó, em toda sua simplicidade, me ensinou uma das lições mais profundas de toda minha vida: Na Igreja de Jesus, todos podem participar. Cristo dá voz à todos, mesmo aos mais pequeninos, aos menos visíveis.

O apóstolo Paulo, escrevendo ao jovem pastor Timóteo, entre todas as orientações expostas, centraliza o foco na compreensão do ser da Igreja, e no relacionamento correto que se deve ter para o ela. A Igreja é, portanto, coluna e baluarte da verdade. Paulo ensina que a através da Igreja é que se revela o mistério da piedade, e que o centro da Igreja é Cristo. Convida Timóteo a exercitar-se na piedade, ou seja, praticar a verdade de Cristo como sendo a própria essência do ser da Igreja.

A Igreja portanto, é construída sobre o conceito da piedade, da reverêcia e da reunião em torno da pessoa de Cristo. Somos ensinados que Cristo foi manifestado em carne, justificado em espírito, visto dos anjos, pregado aos gentios, crido no mundo e recebido na glória. É um caminho, uma jornada que começa em Deus e volta para Deus. O princípio e o fim da Igreja se encontram descansados em Deus, o Senhor da história.

Há grande lucro na piedade. Na verdade, a piedade é uma fonte inesgotável da alegria, porque faz nascer no coração do homem algo chamado contentamento. A piedade é o antídoto contra o mal do século, a ansiedade. A impiedade, pelo contrário, faz brotar vaidade, orgulho, contendas, invejas, difamações, polêmicas sem fim, mentes pervertidas, mentiras, distorções com respeito a vida e a Igreja. A impiedade é a mãe do descontentamento. Esta mãe possue 4 filhos: a tentação, a cilada, os desejos insensatos e a ruína e perdição.

Portanto, viver sem Deus, sem ter Cristo como o centro da vida, é estar entregue a impiedade e ao descontetamento. É estar fadado aos males da existência, ao desvio da fé e aos tormentos que provavelmente ocorrerão na vida.

Como ser livre da impiedade, e experimentar a vida de forma diferente? Eu gostaria de propor os mesmos quatro movimentos que Paulo expôs a Timóteo: 1) Foge da impiedade; 2) Siga a Cristo; 3) Tome posse da vida eterna; 4) Guarde sua vida para Deus.

A comunidade dos sonhos é a Igreja, o lugar do amor e da vida. Lugar da manifestação da graça, da aceitação e do acolhimento. Lugar de relacionamentos curados e saudáveis. Lugar de transformação e superação de obstáculos e crescimento. Lugar da piedade, do respeito e do amor a Deus e aos irmãos. Não apenas sonho, realidade!

Friday, February 04, 2011

SOMOS HERÓIS?

O céu é o limite! Quem não se lembra deste interessante programa de televisão, que bateu recordes de audiência na década de 80? Homens e mulheres ficaram famosos por conta de suas mentes brilhantes, por responderem com habilidade perguntas complicadas a respeito de um tema específico. Quem nunca sonhou em ser como James Bond, conhecer o mundo e ter uma profissão eletrizante? Quem nunca pensou em ter os poderes do Super-Homem, capaz de fazer a terra girar ao contrário a fim de dar à história o rumo que lhe conviesse? Quem nunca quis fazer parte das reuniões secretas dos Super-Amigos, que decidiam o rumo do universo de dentro da Sala de Justiça?

Vivemos o tempo do culto à auto-realização. A sociedade caminha a passos largos em busca do prazer pessoal e da concretização de seus desejos antropocêntricos. O modelo está estabelecido, e percebemos isto através dos livros de auto-ajuda, dos personal trainnings, das cirurgias plásticas, das colunas sociais, e de tantas outras formas que demonstram o sucesso de uns em detrimento do fracasso de outros.

O paradigma da sociedade é o sucesso, que se encarna através de homens e mulheres que chegam ao topo, ao objeto de desejo coletivo. Tornam-se vencedores para o mundo. A isto chamamos narcisisticamente de “auto-realização”. Apesar da morte ser um limitador deste sentimento, o ser humano transforma-se a cada dia em um grande contador de suas próprias histórias, de suas próprias conquistas e de seus próprios ideais.

Ser capa de revista, viajar para Europa, comprar carros importados, ter uma caneta Mont Blanc, um rolex (original!), jantar em restaurantes caros, morar em lugares luxuosos, ser amigos dos famosos, ser badalado pela mídia, entre outros, são metas estabelecidas pela maioria dos seres humanos no mundo, inclusive pelos cristãos.

A Bíblia ensina que a realização do homem está em Cristo e não na efemeridade do mundo. Em Cristo somos livres do individualismo e do narcisismo. Somos livres de nós mesmos quando nos aproximamos do mistério da cruz de Cristo. A realização do ser humano não é pessoal, mas sim relacional. Parte da relação de Deus com o homem, do homem com o próximo e do homem com toda a criação de Deus. Portanto a salvação em Cristo vai além do âmbito particular, mas embasa-se no relacionamento, na comunidade, no encontro de Deus com o homem. Em Cristo, o Eterno toca o temporal! Em Cristo somos incluídos na realidade relacional do Reino de Deus.

Deus tem chamado homens e mulheres para serem apaixonados por Ele. Dependentes de Seu amor de Sua graça. Sustentados por Sua poderosa mão e por Seu soberano desígnio. Deus não tem chamado heróis, mas sim filhos cheios de amor pelo Pai, pois os heróis são transitórios, estéticos e superficiais. Os filhos, porém, são eternos, por causa de Cristo e da Glória de Deus.

Somos heróis? Creio que não! Somos falhos, incapazes, loucura para os sábios e estranhos para o mundo. Porém, somos peregrinos, forasteiros em terra estranha. Temos nosso olhar fixo em nossa Pátria Celestial (Fl.3.20), a qual Cristo tem nos preparado. Não somos contadores de nossas próprias histórias, mas somos participantes do maior épico de todo universo: O eterno romance de Deus com o Seu Povo!