Thursday, July 21, 2011

EQUILÍBRIO NA VIDA!

Parábolas são narrações alegóricas envolvendo um forte princípio central. São figuras que ajudam na compreensão de conceitos mais profundos. Facilitadoras do ensino e da transformação do indivíduo. Parábolas são janelas que se abrem e mostram as mais belas paisagens. São rompantes de inspiração ao coração. Indicam caminhos, pontos importantes, pilares que precisam ser construídos, ou pedras que precisam ser transpostas.

Jesus ensinou através de Parábolas. Conforme a capacidade dos ouvintes, conforme as reações dos presentes, as perguntas, os problemas, as lutas; sempre o ensino de Jesus foi desafiador e motivador da vida. Falava em parábola para a multidão, e explicava em particular aos discípulos (Mc.4.33-34). O ensino de Jesus tem a ver, portanto, com valores do Reino de Deus, a verdade bíblica que define a vida, responde aos conflitos da existência, e revela o conhecimento de Deus, e com o relacionamento entre o homem e Deus, que se dá apenas através da morte e da ressurreição de Cristo. Duas palavras muito importantes até aqui: Relacionamento e Valor.

O aprendizado é uma das grandes revoluções da vida. Os educadores Vygotsky e Piaget foram dois dos maiores expoentes estudiosos do processo de aprendizagem. Para Vygotsky, a aprendizagem é fruto do processo pedagógico, somado às relações históricas. Cada pensamento é expressão de um desejo, que foi gerado na relação histórica, e a linguagem é a expressão deste desejo. Duas palavras importantes aqui são: Informação e experiência. Piaget ensina que o processo de aprendizagem se dá pelo equilíbrio cognitivo entre a assimilação e a acomodação. Assim, através do relacionamento com mundo exterior, o ser humano está em constante busca pelo equilíbrio.

A partir desta compreensão, o que a Palavra de Deus ensina, resumidamente, com respeito ao Reino de Deus e o ensino de Jesus é que o ser humano, por causa do pecado inerente em si mesmo, decorrente do pecado original, vive em desequilíbrio, consigo mesmo, com Deus e com as pessoas ao seu redor. Deus, contudo, em sua infinita graça e misericórdia, enviou Jesus, para equilibrar esta conta, e promover, tanto a reconciliação do ser humano com Deus, quanto a reconciliação consigo mesmo e com o próximo. Valores transformados, e relacionamentos equilibrados. Esta é a grande sabedoria do Senhor, que aprofunda e amadurece a existência.

A parábola do semeador, é, assim, expressão do desejo do Senhor em equilibrar a vida do ser humano. Os solos são instáveis, abertos a todo o tipo de ação externa. Suscetíveis à chuva, ventanias, secas, e erosões. O solo está sempre em mutação  e processo. Como a proposta de Jesus pode trazer harmonia para a vida, que está em contante movimento?

As sementes, que são o ensino de Jesus, e o embrião do Reino de Deus, caem em, pelo menos, quatro tipos de solos:  a) A beira do caminho; b) Em solo rochoso;  c) No meio dos espinhos; d) Em terra fértil e boa. Perceba que a semente não muda sua essência, nem mesmo o processo que realiza por conta da sua natureza. O solo é que determina o aproveitamento ou não da semente. Assim, o fator determinante para o crescimento do Reino de Deus na vida é a assimilação e a acomodação dos valores e princípios da Palavra de Deus na vida e no coração. Que tipo de solo é você?

Uma parte das sementes caiu à beira do caminho. A imagem feita por Jesus aqui são de sementes, que apesar de lançadas ao solo, não penetraram a terra. Logo estas sementes são comidas pelas aves. Assim são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, mas de forma superficial. A Palavra é então roubada pelo inimigo. Infelizmente, este processo acontece, muitas vezes, no meio do movimento de Jesus. Multidões que estão à volta, contudo, impermeáveis à Palavra de Deus. Insensíveis à semente do Reino, seguem a vida em uma completa surdez espiritual, sem ouvir à doce voz do Senhor. Escutam, mas não ouvem. Foram assaltados, e nem perceberam.

Outra parte das sementes  caiu em solo rochoso. Este solo é uma mistura de muitas pedras e pouca terra. A semente até cresce, no entanto, sua raíz é ínfima, insuficiente. Como afirma Jesus, ao explicar a parábola aos discípulos, este tipo de solo recebe a semente com alegria, contudo, a angústica ou a perseguição, os acaba fazendo definhar. A palavra que define o solo rochoso é superficialidade. Gente que não amadurece, e que vive a vida de uma forma infantil ou cínica. Rochosos são os corações imaturos. Gente que edifica a casa na areia ao invés da rocha e que foge dos grandes enfrentamentos da vida. Jesus ensina que no mundo enfrentamos aflições, e que não devemos perder o bom ânimo, pois Ele venceu o mundo. O que fazer para deixar de ser solo rochoso? Fuja de toda a massificação da fé, esteja longe de toda padronização, e de toda a proposta que faça do evangelho uma grande coreografia. Solos que possuem pouca terra são insuficientes para a germinação da Semente do Reino.

A terceira parte das sementes caiu em meio aos espinhos. Os espinhos cresceram e sufocaram a semente. Três fatores importantes que funcionam como espinhos: a ansiedade (cuidados do mundo), a fascinação do mundo, e a ambição. A questão aqui é a seguinte: quem é o Senhor da sua vida? Sementes no meio de espinhos são assim, estranguladas por tantas outras prioridades. Como o jovem rico, que teve na venda de seus bens o impecilho para seguir a Cristo. Ou os discípulos que estavam disputando para ver quem seria o maior no Reino de Deus. Tudo o que contribui para a vaidade, ambição e engrandecimento do homem, se interpõe ao Reino de Deus, transformando-se assim em espinho. Como vencer os solos espinhosos da vida? Seja íntegro. Queira uma coisa só em sua vida. Tenha apenas um alvo em sua existência: Amar a Deus, e amar as pessoas. Busque a Deus em primeiro lugar, e as outras coisas acontecerão naturalmente, pela graça e vontade de Deus.

A quarta parte das sementes, caiu, enfim , em solo fértil. A mecânica do solo fértil é simples de compreender. Recebe a semente e frutifica. Como na parábola do grão de mostarda, que quando plantado é a menor das sementes, mas ao germinar , se torna a maior das hortaliças. Solo fértil é aquele que não tem impedimentos para a Palavra de Deus, e que assimila os valores do Reino de Deus na vida. Solos férteis tem um relacionamento aberto, restaurado  e reconciliado, tanto com o Deus, quanto com o próximo. Solos férteis multiplicam a Palavra em sua vida, e exalam o bom perfume de Cristo por onde passam.

Minha oração e desejo é que o Reino de Deus seja cada vez mais visível nos corações, e que a graça de Deus seja cada vez maior nos corações, transformando solos, antes endurecidos, pisados, rochosos ou cercados por espinhos, agora em solos férteis, cheios da vida e de frutos belos e vistosos, sempre para a glória de Deus. Solo fértil, o Reino de Deus crescendo e frutificando nos corações.








Tuesday, July 19, 2011

A sequidão e a graça de Deus

Os seis primeiros capítulos do evangelho de Marcos são intensos e eletrizantes. Revelam a expansão do ministério de Jesus pela Galiléia, as curas, milagres, exorcismos, livramentos, o chamamento dos discípulos, e as controvérsias com os fariseus. A centralidade do ministério de Jesus é a revelação da graça de Deus, e da salvação do ser humano caído e distante do Senhor.

Um episódio interessante neste aspecto da revelação da graça é o encontro de Jesus com o homem da mão ressequida(Mc 3.1-6). É dia de Sábado, todos os homens da cidade se dirigem para a Sinagoga, e entre eles, Jesus e seus discípulos. Já no lugar, um homem com a mão ressequida chama a atenção de Jesus, que o convida para o centro, e pergunta aos fariseus se é lícito curar no Sábado. Diante do silêncio dos fariseus, Jesus restaura a mão daquele homem. Uma cena simples de ser descrita, pela brevidade das palavras ditas, mas inversamente profunda, pelos sentimentos, olhares e percepções não verbalizados, contudo divinamente narrados por Marcos.

Há uma tensão entre a graça de Deus e a justiça própria do homem. A graça proclama que temos acesso a Deus por causa do favor do Senhor em Cristo. A lei, pelo contrário, afirma que a obediência e o mérito próprio é que garantem a comunhão com o Senhor. Assim, a doutrina ensina que o Sábado é importante. Jesus, no entanto,  ensina que pessoas são mais importantes, pois  Ele próprio é o Senhor do Sábado, e de todas as outras doutrinas. O fim da lei é Cristo. O centro do evangelho é Cristo. O resumo do amor de Deus é a vida de Cristo. Assim, diante daquele homem com a mão ressequida estava a própria graça encarnada de Deus, que liberta o ser humano de todos os encarceramentos possíveis.

Para os fariseus, o homem com a mão ressequida era uma prova da sua superioridade. Prova disso, é o fariseu orando na esquina, agradecendo por ser melhor que os outros, enquanto o publicano, que era pecador declarado, não conseguia sequer levantar os olhos, e tudo o que fazia era clamar pela misericórdia de Deus. Na verdade, esta mentalidade da justiça própria quer manter os enfermos como eles estão, para que outras enfermidades não sejam reveladas. Quer afirmar a sequidão do outro, e amenizar o real estado do coração já mirrado pela injustiça.  Assim,  por detrás daquela mão ressequida estão outras mazelas, que devem igualmente ser  tocadas pela graça.

Quais foram as atitudes dos fariseus, que revelam a justiça própria, presente no coração do ser humano? Três ações, como cenário da negação da graça: a) Acusação: Observavam Jesus buscando encontrar erros que o submetessem a acusação. O papel o acusador é apontar  falhas no intuito de imputar culpa; b) Omissão: o silêncio dos fariseus foi extremamente revelador. Foi sinônimo ao silêncio do sacerdote e do levita no caminho para Jericó, diante do moribundo à beira do caminho. O silêncio dos fariseus é o mesmo que o de Pilatos, ao lavar as mãos diante de injustiça humana. É o silêncio de Judas, quando na última ceia, sorrateiramente se retirou, para trair a Cristo. O silêncio dos fariseus não é o silêncio dos inocentes. Antes,  é o esconderijo dos omissos, o lugar dos cruéis, daqueles que se alegram com a tristeza do outro. Assim, omissão é um pecado grave, pois é a expressão do descaso e do desamor ; c) Conspiração: Diante da graça, da cura e da libertação, os fariseus escolhem a porta dos fundos, a saída dos invejosos. Conspiram para destruir a graça, planejam o mal, associam-se com herodianos, gente da pior espécie, a fim de rechaçarem a Cristo.

Jesus tem sentimentos e ações bem diferentes. Assim como todos os homens da cidade, Jesus também se dirigiu à Sinagoga no sábado. Enquanto o olhar dos fariseus estava fito na lei, ou na falha do outro, o primeiro olhar de Jesus foi na direção daquele que era o mais necessitado. Um homem à margem, enfermo, esquecido pelos poderosos, mas lembrado pelo Senhor. Assim, Jesus convida-o à sair de sua posição, e vir ao encontro da graça. A pergunta que deve ser feita aqui é esta: Para onde vão os olhares dos seguidores de Jesus diante das chagas, aflições e feridas humanas?

Há muitos homens e mulheres ressequidos na alma, que estão à margem do movimento de Jesus. São os que estão com o coração mirrado,  a espera da graça. Buscando um olhar, um convite, um momento quando possam sair das sombras, e ter sua enfermidade tocada e curada por Jesus.

Dois sentimentos de Jesus diante da omissão humana: a) Indignação: o pecado deve gerar indignação. Quem não se indigna com o erro ou com o pecado dominando vidas, é porque não ama nem a  Deus, nem tampouco o próximo. A indignação de Jesus é, portanto, o resumo do sentimento de quem se importa com a vida, e com aquele que está sofrendo. A indignação é, neste caso, expressão do amor, da graça e da salvação de Deus;  b) Compaixão: Jesus compadeceu-se com a dureza do coração dos fariseus. Ao contrário do que se poderia pensar, Jesus não é violento com os fariseus, contudo se entristece com sua atitute, e condoe-se diante de tamanha distância de Deus. No fim das contas, a distância de Deus é a maior das ignorâncias humanas. Não há nada pior que viver na escuridão, distante da graça de Deus.

A ação final de Jesus foi devolver o homem da mão ressequida à normalidade, restaurando-lhe o ser. Assim, o encontro com Jesus, revela a graça de Deus, que nos toca, e nos devolve à naturalidade. Nossas sequidões são banhadas pelo amor do Senhor, e onde antes havia deserto, hoje há pomares. Onde havia tristeza, há alegria. A dor dá lugar à cura, e o pranto é vencido pelo riso. Tudo graças a Jesus, que pela graça, convida o ser humano sofrido ao meio, toca-lhe a ferida e o devolve à vida. Quanto maior é a graça, maior é Cristo em mim.