O equilíbrio é uma grande virtude na vida.
Ponderar questões importantes, ter discernimento para pesar entre o certo e
errado, ou até mesmo compreender fatores que a princípio estão abaixo da
superfície emocional são elementos importantes na vida. O equilíbrio é a fonte
do entendimento e o princípio da maturidade. Todo extremo é perigoso.
O evangelho é equilíbrio. As emoções de Cristo
são completamente equilibradas. Ao ler o evangelho, fico impressionado com a
capacidade de Jesus reagir perfeita e equilibradamente em todas as situações.
Por um lado reagir com firmeza diante dos fariseus mal intencionados, e por
outro, com graça diante da mulher com
fluxo de sangue. Reagir com dureza diante do comércio feito inescrupulosamente
no templo, e com extrema compaixão diante da viúva pobre que depositou uma
pequena oferta no gazofilácio.
Infelizmente, vivemos um tempo de desequilíbrio
no mundo, e consequentemente na Igreja. J.I. Packer, no livro O Antigo
Evangelho, detecta com profundidade uma das questões centrais que contribuem
para o desequilíbrio na Igreja hoje. O problema é que o evangelho deixou de ser
para a glória de Deus, e passou a ser para ajudar o homem. A pregação se tornou
um veículo de auxílio humano, e não mais a proclamação da glória, do poder, da
santidade e virtude de Deus. Há cem anos que a igreja vem mudando o centro da
pregação, retirando Cristo e gradativamente colocando o homem no lugar.
O que vemos hoje são ministérios inteiros
fundamentados no hedonismo, que é a busca ilimitada de prazer e satisfação
pessoal, e também em outro fator igualmente pernicioso, o narcisismo, que em suma é o desejo que o ser humano tem de
adimirar a si mesmo. Desta maneira, o que infelizmente observamos em muitas
expressões do movimento evangélico é fruto da descentralização de Cristo e da
cruz.
Como equibrar a vida? Quais são os elemementos
que precisam ser calibrados, a fim de que Cristo seja o centro da expressão do
viver? Há pelo menos três elementos que precisam ser considerados, seguindo a
pista de John Stott, no livro Cristianismo Equilibrado.
Em primeiro, é preciso
equlibrar a razão e a emoção. O excesso de intelecto proporciona a falta de sensibilidade e
humanidade. Num outro aspecto, o excesso de emoção proporciona a falta de
inteligência e racioncínio. A história está recheada de exemplos em ambos os
extremos. Foi o extremo culto à razão que levou a morte das igrejas na Europa.
Em contrapardida, a emoção sem limites trouxe consequências terríveis à
diferentes grupos no decorrer da história. Não há beleza no extremismo.
Para combater a emoção extrema é preciso
compreender que em nossos dias, na Igreja, há pelo menos três pontos que
precisam ser corrigidos veementemente: 1) a falta de pregação bíblica; 2) o
excesso de apelo às emoções; 3) a experiência como critério para a verdade. O
perigo deste desequilíbrio é proporcionar que o homem passe a agir
instintivamente, deixando de exaltar a glória de Deus. Portanto, ao raciocinar,
o homem está se valendo da própria
imagem de Deus nele, e equilibrando a vida.
Em segundo lugar, é
preciso equilibrar entre a tradição e a liberdade. Existem dois tipos bem presentes na Igreja.
Os resitentes e os abertos à mudanças. Toda mudança gera sofrimento. Mudar de
cidade, de cultura, língua. Mudar de casa, ou escola. Mudar o trabalho, ou até
mesmo a profissão. Toda a mudança é uma tensão, que precisa ser bem trabalhada.
A igreja tem passado por grandes mudanças no
último século. Pelo menos três fatores de mudança são importantes de se
mencionar. Em primeiro, a transição de uma era no campo da filiosofia, quando
caminhamos do modernismo para o pós-modernismo. Em segundo, a evolução do
evangelho nos países em desenvolvimento, que fez nascer uma outra proposta para
elementos, tais como a reforma, que estão presentes na cultura européia ha pelo
menos 500 anos. Em terceiro lugar, o nascimento do movimento pentecostal, e
agora neo-pentecostal, apresentando-se como o extremo da reação ao
tradicionalismo.
Assim, como fruto desta tensão interna e
externa, ocorre uma desnecessária polarização do evangelho, que desequilibra a
expressão do mesmo. Qual é a proposta para o equilíbrio, quando tratamos de
questões delicadas, decorrente das desconfortáveis mudanças?
Precisamos ser conservadores em pelo menos
quatro aspectos: 1) Conservadores quanto à revelação de Cristo e da Palavra; 2)
conservadores para guardar a essência da pregação e do evangelho; 3) Conservadores
para batalharmos em favor da fé; 4) conservadores no sentido de não inventarmos
um outro evangelho, ao contrário, batalharmos preservarmos o mesmo evangelho.
Em que devemos ser abertos, e até mesmo
radicais quanto à mudança? Na comunicação do evangelho, e na aplicação da
verdade da Palavra de Deus relacionada aos dramas atuais da vida humana.
Radicais para expressarmos, de muitas maneiras, a verdadeira transformação que
o evangelho proporciona na vida humana.
Em terceiro lugar,
equilíbrio entre a estrutura e a falta de estrutura. Na década de 70, fruto da influência das
comunidades que surgiram em países da América Latina e América do Norte, e do
ideal de se viver longe das estruturas denominacionalmetne enrijecidas, surgiu
no Brasil o movimento das Comunidades. O que se observa nos útimos 40 anos,
portanto, é o crescimento de igrejas independentes, em nome da liberdade de culto
e de governo nas igrejas locais. Até
mesmo as igrejas que permanecem nas denominações, quando alcançam autonomia
suficiente, tendem a afastar-se e pecaminosamente pensar que não precisam das
demais igrejas para sobreviver. Em ambos os apectos, a tentativa de afirmar o
evangelho a partir da estrura ou da asência dela é ausente do sentido básico da
fé.
O que é preciso para que esta questão seja reequilibrada?
Pelo menos quatro aspectos: 1) Uma igreja estruturada, 2) Uma adoração formal
(equlíbrio entre o barulho e a reverência), 3) Princípio de conexão entre a
Igreja local e a Igreja universal; 4) Responsabilidade evangelísta e social.
Meu desejo é que, a cada dia, possa brotar
equilíbrio nas vidas daqueles que amam a Jesus. Vidas equilibradas entre a
razão e a emoção, a tradição e a novidade, e entre a estrutura e a liberdade,
pois no equilíbrio está a alegria e a maturidade.