Thursday, December 15, 2011

Evangelho é Equilíbrio


O equilíbrio é uma grande virtude na vida. Ponderar questões importantes, ter discernimento para pesar entre o certo e errado, ou até mesmo compreender fatores que a princípio estão abaixo da superfície emocional são elementos importantes na vida. O equilíbrio é a fonte do entendimento e o princípio da maturidade. Todo extremo é perigoso.

O evangelho é equilíbrio. As emoções de Cristo são completamente equilibradas. Ao ler o evangelho, fico impressionado com a capacidade de Jesus reagir perfeita e equilibradamente em todas as situações. Por um lado reagir com firmeza diante dos fariseus mal intencionados, e por outro,  com graça diante da mulher com fluxo de sangue. Reagir com dureza diante do comércio feito inescrupulosamente no templo, e com extrema compaixão diante da viúva pobre que depositou uma pequena oferta no gazofilácio. 

Infelizmente, vivemos um tempo de desequilíbrio no mundo, e consequentemente na Igreja. J.I. Packer, no livro O Antigo Evangelho, detecta com profundidade uma das questões centrais que contribuem para o desequilíbrio na Igreja hoje. O problema é que o evangelho deixou de ser para a glória de Deus, e passou a ser para ajudar o homem. A pregação se tornou um veículo de auxílio humano, e não mais a proclamação da glória, do poder, da santidade e virtude de Deus. Há cem anos que a igreja vem mudando o centro da pregação, retirando Cristo e gradativamente colocando o homem no lugar.

O que vemos hoje são ministérios inteiros fundamentados no hedonismo, que é a busca ilimitada de prazer e satisfação pessoal, e também em outro fator igualmente pernicioso, o narcisismo,  que em suma é o desejo que o ser humano tem de adimirar a si mesmo. Desta maneira, o que infelizmente observamos em muitas expressões do movimento evangélico é fruto da descentralização de Cristo e da cruz.

Como equibrar a vida? Quais são os elemementos que precisam ser calibrados, a fim de que Cristo seja o centro da expressão do viver? Há pelo menos três elementos que precisam ser considerados, seguindo a pista de John Stott, no livro Cristianismo Equilibrado.

Em primeiro, é preciso equlibrar a razão e a emoção. O excesso de intelecto proporciona a falta de sensibilidade e humanidade. Num outro aspecto, o excesso de emoção proporciona a falta de inteligência e racioncínio. A história está recheada de exemplos em ambos os extremos. Foi o extremo culto à razão que levou a morte das igrejas na Europa. Em contrapardida, a emoção sem limites trouxe consequências terríveis à diferentes grupos no decorrer da história. Não há beleza no extremismo.

Para combater a emoção extrema é preciso compreender que em nossos dias, na Igreja, há pelo menos três pontos que precisam ser corrigidos veementemente: 1) a falta de pregação bíblica; 2) o excesso de apelo às emoções; 3) a experiência como critério para a verdade. O perigo deste desequilíbrio é proporcionar que o homem passe a agir instintivamente, deixando de exaltar a glória de Deus. Portanto, ao raciocinar, o homem  está se valendo da própria imagem de Deus nele, e equilibrando a vida.

Em segundo lugar, é preciso equilibrar entre a tradição e a liberdade. Existem dois tipos bem presentes na Igreja. Os resitentes e os abertos à mudanças. Toda mudança gera sofrimento. Mudar de cidade, de cultura, língua. Mudar de casa, ou escola. Mudar o trabalho, ou até mesmo a profissão. Toda a mudança é uma tensão, que precisa ser bem trabalhada.

A igreja tem passado por grandes mudanças no último século. Pelo menos três fatores de mudança são importantes de se mencionar. Em primeiro, a transição de uma era no campo da filiosofia, quando caminhamos do modernismo para o pós-modernismo. Em segundo, a evolução do evangelho nos países em desenvolvimento, que fez nascer uma outra proposta para elementos, tais como a reforma, que estão presentes na cultura européia ha pelo menos 500 anos. Em terceiro lugar, o nascimento do movimento pentecostal, e agora neo-pentecostal, apresentando-se como o extremo da reação ao tradicionalismo.

Assim, como fruto desta tensão interna e externa, ocorre uma desnecessária polarização do evangelho, que desequilibra a expressão do mesmo. Qual é a proposta para o equilíbrio, quando tratamos de questões delicadas, decorrente das desconfortáveis mudanças?

Precisamos ser conservadores em pelo menos quatro aspectos: 1) Conservadores quanto à revelação de Cristo e da Palavra; 2) conservadores para guardar a essência da pregação e do evangelho; 3) Conservadores para batalharmos em favor da fé; 4) conservadores no sentido de não inventarmos um outro evangelho, ao contrário, batalharmos preservarmos o mesmo evangelho.

Em que devemos ser abertos, e até mesmo radicais quanto à mudança? Na comunicação do evangelho, e na aplicação da verdade da Palavra de Deus relacionada aos dramas atuais da vida humana. Radicais para expressarmos, de muitas maneiras, a verdadeira transformação que o evangelho proporciona na vida humana.

Em terceiro lugar, equilíbrio entre a estrutura e a falta de estrutura. Na década de 70, fruto da influência das comunidades que surgiram em países da América Latina e América do Norte, e do ideal de se viver longe das estruturas denominacionalmetne enrijecidas, surgiu no Brasil o movimento das Comunidades. O que se observa nos útimos 40 anos, portanto, é o crescimento de igrejas independentes, em nome da liberdade de culto e de governo nas igrejas locais.  Até mesmo as igrejas que permanecem nas denominações, quando alcançam autonomia suficiente, tendem a afastar-se e pecaminosamente pensar que não precisam das demais igrejas para sobreviver. Em ambos os apectos, a tentativa de afirmar o evangelho a partir da estrura ou da asência dela é ausente do sentido básico da fé.

O que é preciso para que esta questão seja reequilibrada? Pelo menos quatro aspectos: 1) Uma igreja estruturada, 2) Uma adoração formal (equlíbrio entre o barulho e a reverência), 3) Princípio de conexão entre a Igreja local e a Igreja universal; 4) Responsabilidade evangelísta e social.

Meu desejo é que, a cada dia, possa brotar equilíbrio nas vidas daqueles que amam a Jesus. Vidas equilibradas entre a razão e a emoção, a tradição e a novidade, e entre a estrutura e a liberdade, pois no equilíbrio está a alegria e a maturidade. 

No comments: