Zacarias era sacerdote, apenas mais um entre
muitos que exerciam o mesmo ofício em sua época. Pertencia à um grupo de
sacerdotes, que servia em um dos vinte quatro turnos existentes no templo em Jerusalém. Era um homem justo,
casado com uma mulher também justa, chamada Isabel. Viviam irrepreensivelmente,
com a consciência tranquila diante de Deus, obendecendo livremente a Palavra.
Eram já idosos, e não tinham filhos, por conta da esterelidade de Isabel.
Ao olhar para esta família, imagino o contraste
entre a fidelidade e a frustração. Uma existência vivida para Deus, contrastada
com o impedimento do nascimento do filho. Por um lado o poder da glória e
majestade do Senhor, e por outro, o limite humano. A finitude e a falência,
diante da graça e virtude.
Num destes turnos de serviço, por conta de um
sorteio, coube à Zacarias, entrar no Santo Lugar, e sozinho, queimar o incenso
ao Senhor. Esta era uma oportunidade singular. Um acontecimento que poderia ser
único em toda a vida de Zacarias. Todos os outros sacerdotes se retiraram, o
povo permanecia do lado de fora orando. Assim, ali está Zacarias, sozinho no
Santo Lugar.
A graça de Deus
trabalha em nossas vidas de maneira pessoal e íntima. A solitude, a adoração e reverência
são elementos do agir do Senhor na vida de seus filhos. Desta forma, quando
Zacarais menos espera, ao lado do altar do incenso, um anjo do Senhor, trazendo
a mensagem de Deus. A graça de Deus é assim, acontece de repente. Como o vento
que sopra, e não se sabe de onde vem ou
pra onde vai, assim é a graça, que pela vontade de Deus nos alcança e
transforma a vida para sempre.
A graça de Deus
responde nossas orações. O que exatamente Zacarias orou? Talvez tenha desejado um filho, ou que
a alegria de Isabel fosse completa, ou até mesmo que o Senhor enviasse o
Messias para libertar Israel. Não sabemos. O que podemos, contudo, perceber e
crer, é que todas as orações e desejos de Zacarias foram respondidos. As orações de fé são arquivadas no céu
e não se esquecem. As orações feitas quando éramos jovens
e entravamos no mundo, podem ser respondidas quando sejamos velhos e estejamos
saindo do mundo. As misericórdias são duplamente doces quando são dadas como respostas à
oração (Matthew Henry).
A graça de Deus nos
concede o que não merecemos, e ainda nos surpreende com mais do que possamos imaginar. Para
Zacarias e Isabel, João foi a manifestação concreta da graça. O nome de João
significa o Senhor é gracioso, e a promessa sobre o menino é que ele seria
grande diante de Deus. A missão de João foi de preparar o caminho para o
Messias. Assim, não apenas o coração de Zacarias e Isabel se alegrou, mas sim,
todo o povo de Deus celebrou a vida de João Batista, presente de Deus para os
seus pais, e instrumento do Senhor para a manifestação de Cristo Jesus.
A graça de Deus
corrige a vida e trabalha a fé. Zacarias duvidou da Palavra de Deus. Talvez tenha achado um absurdo.
Olhou para si mesmo, para sua condição humana, para os todos os limites, que
neste ponto eram perceptíveis em sua vida, e simplesmente descreu. A verdadeira
graça é aquela que se manifesta apesar do limite humano, pois sua base não é a
fé, mas a glória de Deus. Zacarias ficou mudo até o nascimento de João. O
silêncio trabalhou e corrigiu sua vida, pois assim é a graça de Deus. Após o
nascimento de seu filho, Zacarias proferiu suas primeiras palavras, uma oração
fervorosa, cheia de gratidão a Deus e consciente do cumprimento da promessa e
da graça de Deus sobre a vida de João, e do Messias prometido.
A graça de Deus, portanto, trabalha em nós de
maneira pessoal, respondendo nossas orações, concedendo-nos o que não merecemos
e corrigindo a vida, para a realização do propósito eterno de Deus, e para a
glória do Senhor na existência e na história.
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