“A melhor definição que posso dar de um homem é a de um ser que se habitua a tudo” (Fiodor Dostoievski).
A vida humana sempre foi cercada de desafios os mais diversos possíveis. Desde o nascimento, o homem é colocado em contato com o novo. A frieza das salas de parto, hermeticamente fechadas, esterlizadas e absurdamente iluminadas são um contraste latente ao aconchegante e seguro ventre materno. Os ambientes, situações e possibilidades levam a pessoa a tomar deciões diárias, como reação às novidades, ou afirmaçãos dos valores e princípios que se tem no coração. Deve aprender a superar situações de contrariedade, limites e impossibilidades como parte do amadurecimento na caminhada.
A existência é uma estrada à caminho da maturidade e a conversão é o primeiro passo rumo à este crescimento. Nesta estrada o trabalho divino é impulsionar o ser humano à lugares mais altos, nunca à regressão e a infantilização da vida. A síndrome de Peter Pan, descrita pelo psicólogo Dan Kiley, trata daquele indivíduo que nunca desiste de ser filho para se tornar pai, e que mesmo diante dos embates resiste ao crescimento, ao enfrentamento a às definições de papéis no casamento e na vida. São pessoas que nunca amadurecem, nunca crescem na caminhada. Perceba que a vida insegura de nossos dias produz refúgios existenciais, lugares que funcionam como os jardins de inverno, no intuito de gerar abrigo e proteção das estações externas, e evitar os conflitos da vida.
Algumas imagens bíblicas vêm a minha mente quando penso em maturidade. A primeira imagem é o episódio no qual Jesus ensina que Ele é o caminho, a verdade e a vida. Quando cremos, portanto, não somos lançados em um jardim fechado, distante das ameaças e complicações, mas sim em um caminho, cheio de novidades e desafios. A idéia, portanto, de que a vida cristã é uma redoma contra as mudanças é equivocada. O dinamismo da vida cristã procede justamente do fato da Igreja estar à caminho, e no caminho. Neste processo de amadurecimento, quando os filhos caminham pelo caos das fronteiras mais distantes da alma, presenciando os embates mais profundos da vida é que as convicções florescem e se fortalecem.
Uma segunda imagem é a de Jesus como o Pastor das ovelhas. Na descrição do apóstolo João, Jesus é tanto o caminho, como o Pastor, como a Porta de acesso ao aprisco, lugar seguro para as ovelhas. A dialética da maturidade é incrível. Ora na segurança do aprisco, ora na desolação do deserto em busca das pastagens ou das olvelhas perdidas, mas sempre na companhia do Senhor. É maravilhoso perceber que ao comando Jesus, o aprisco é aberto e as ovelhas são lançadas às pastagens, sob a direção e condução do Pastor Supremo. Não ficam presas no cercado, distante dos lobos, tempestades e possíveis perdas. Precisam aprender a reconhecer os passos e a voz do Pastor, e confiar em sua condução às pastagens verdejantes.
Soren Kierkegaard afirma que maturidade é atingir a seriedade de uma criança brincando. Maturidade é, segundo o Apóstolo Paulo, o aperfeiçoamento dos santos, e o pleno conhecimento do Filho (Ef.4.12-13). Jesus ensina que somente podem ver o Reino de Deus os que se tornam como crianças. A mensagem não é a defesa da ingenualidade, ou da infantilização da vida. Antes é a pregação da pureza da alma, e das intenções do coração.
No caminho de volta para Cafarnaum, o silêncio intrigante dos discípulos os delatou. A discussão anterior, motivadora do clima tenso, se estabeleceu para que se descobrisse entre os apóstolos, quem seria o maior no Reino de Deus. Como resposta à imaturidade dos discípulos, Jesus, numa expressão paradoxal, traz para o centro das atenções uma criança. Tomou-a nos braços e afirmou: Quem recebe uma criança, a mim me recebe. O Filho é puro, simples e suas intenções são claras e aparentes a todos. Não há silêncio delator no Filho, nem tampouco jogos de poder, que revelam a maldade e manipulação humanas. No caminho, Jesus ensina os doze qua o antídoto para a intantilidade da vida, está na pureza da criança. A maturidade portanto é simples.
Assim, como afirma o poeta norte americano John Finley, maturidade é a capacidade de perseverar incertamente. Não são os fatos, os acertos ou erros que definem a maturidade, mas a capacidade de lidar com o desprezo e com os climas desfavoráveis, tendo como único ponto de apoio o conceito que se acretida, em suma, a fé. Neste mesmo sentido, a fé crê apenas, simplesmente espera em Deus, e afirma a continuidade da vida e da alegria, mesmo quando todas as situações à volta desdenham da mesma.
Não gostamos das ambiguidades que vez ou outra tocam a vida, mas elas acontecem. Tragédias atingem pessoas normais. Relacionamentos esfacelam-se por conta de processos complexos. Pais abandonam os filhos, e os filhos desonram os pais. Impérios se levantam e caem, tudo por conta dos paradoxos da existência. A menina que se casou com o rapaz crente, após alguns anos de casamento descobre, da noite pro dia, uma história de adultério, numa trama cinematográfica, que agora abalroou sua vida, e a marcou para sempre. O pai que educou o filho obedecendo os princípios da Palavra, agora percebeu as mudanças de comportamento do filho, e soube que, ainda adolescente, é usuário de drogas, e já teve experiências sexuais na mais tenra idade.
As destruições acontecem na vida humana. São mais comuns que possamos imaginar. Trazem consigo o poder de frustrar e calar a existência. Devastam o olhar, o brilho, a possibilidade da esperança na caminhada. As escolhas, e falta de percepção dos perigos, as surpresas trazidas pela quebra de princípios da Palavra, conduzem a vida ao extremo do desconforto e levam o ser humano à reflexão e a tomada de decisão. O que fazer diante da destruição eminente? Quais são os grandes desafios da vida, e como reagir a eles alicerçado no princípio de Deus para a vida?
Jesus é o caminho a verdade e a vida. Ele nos toma em seus braços, na jornada da vida, e nos ensina a caminhar seguro em meio as tempesdades. Diante das eminentes intempéries, devemos recomeçar a vida, reconstruir os valores, reaprender a caminhar, reagrupar a existência e rumar firmes à vontade de Deus, o conhecimento de Jesus, e a glória do Pai. Devemos crer na promessa da Palavra de Deus, que nos ensina que sempre há muito mais, infinitamente mais que tudo que pensamos ou pedimos, pelo poder de Deus que opera em nossas vidas.
Na próxima Década, creia! Há muito mais!
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