Ubiratã é uma cidade no interior do Paraná, que sempre ocupa um lugar especial nas minhas memórias. Lugar de terra vermelha, muita poeira e paisagens estonteantes. Lugar de gente que facilmente sorri, se alegra e vive com simplicidade. Lugar escolhido por meu avô materno, no final de década de 60, como o eldorado da família Caetano. Nossos finais de semana mais felizes eram vividos naquela cidade.
O tempo parece andar mais devagar em lugares assim. Consigo lembrar das charretes nas ruas, das ruas sem asfalto, da lama formada depois das chuvas de verão, dos jogos de bets, pique-esconde, as intermináveis disputas de futebol, tendo o portão da casa como o gol, e dos sorrisos estampados nos rostos ao redor.
Contudo, o que fica sempre marcado em meu coração é a imagem de minha avó, com suas mãos já tocadas pelo tempo, segurando as grades do portão, com o olhar fito no horizonte, quase que numa prece, esperando por nossa chegada. Quando o carro apontava ainda ao longe, já conseguiámos ver os seus braços acenando, e o seu peculiar sorriso no rosto. Os abraços são inesquecíveis. Beijos cheios de amor, palavras que ficam pra sempre na memória, ditas quase que como um sussuro. Graças a Deus vocês estão aqui, que alegria, que bênção.
A celebração do reencontro é um dos maiores privilégios da vida. Reencontrar a quem amamos, queremos bem, poder conversar, ter comunhão, desfrutar tempo juntos é sempre um presente de Deus na vida dos seus filhos. Meu coração, muitas vezes, é tocado por histórias de irmãos e irmãs que ficam, por longos anos, impossibilitados de reencontrar os seus, por conta de tantas lutas e impedimentos na caminhada.
Jesus, ao contar a parábola do filho pródigo, nos ensina sobre o maior e verdadeiro reencontro da vida humana. O reencontro com o Pai. Nesta parábola somos apresentados a dois filhos perdidos, desencontrados na vida. O mais novo, perdido em seu egoísmo, seu desejo de viver loucamente, sem regra alguma, apenas voltado para o seu prazer pessoal. Desonra o Pai, rompe com o relacionamento, desmorona a família, expõe o Pai na comunidade, e vai para longe. O mais novo é assumidade distante.
O segundo filho, o mais velho, fica em casa. Trabalha duro, e conquista gradativamente o seu espaço. É tradicional, religioso em seus costumes, e de uma rigidez moral indiscutível. Contudo, está tão longe do Pai quanto o mais novo. Faz tudo o que faz para não precisar do relacionamento com o Pai. Matém a distância com o Pai, mesmo obedecendo os preceitos em tudo.
Certo dia, quando o filho mais novo volta para casa, tendo em sua mente o plano de pedir uma oportunidade como empregado nas terras do Pai, para a surpresa dos ouvintes, dos leitores e de todos nós, Jesus descreve um Pai com as emoções para fora, abertas. Um Pai que corre em direção ao filho, que beija o filho, que cobre a nudez, os trapos, a sujeira e até mesmo as atitudes do filho com a melhor roupa da casa. A honra do Pai cobre a desonra do filho. O pai proclama festa, alegria e dança na casa. O mais novo voltou. Reencontro!
O filho que ficou, o mais velho, não participa da alegria do Pai. Fica de fora, em sua auto-justiça. Insulta o pai, condena a atitude do Pai. Também precisa do reencontro. A parábola termina sem que saibamos o final. O Pai vai até o mais velho, o convida para entrar, o convida para o Reencontro. A pergunta é: Você vem ou não vem?
No reencontro com Deus está a graça, o perdão e a infinita misericórdia do Pai. Nos braços de Jesus, descansa a salvação, o amor inquestionável do Senhor, que aceita o ser humano como ele é, e lhe faz renascer. No reencontro, encontro vida. No abraço de Deus encontro paz. No olhar de Jesus encontro salvação, e na Palavra de Deus encontro direção para a vida.
Alegria é saber que, mesmo o ser humano sendo rebelde como o filho mais novo, ou moralmente impecável como o mais velho, pode descobrir que somente no relacionamento com o Pai existe vida, alegria, salvação e paz na vida. O Pai, que não se cansa de amar e abraçar os seus, deseja trazer para perto o que estava perdido.
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