Disse o SENHOR a Moisés: Por que clamas a mim? Dize aos filhos de Israel que marchem (Ex. 14.15)
As maiores aventuras da minha infância se deram na estrada. Nossa família, de muitos tios, por circunstâncias diversas, se espalhou pelo Brasil. Brasíla, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Borda da Mata, Campo Grande, Ubiratã, entre outras cidades, eram destinos certos no período das férias escolares. Os ônibus lotados, de classe convencional, cheios de gente simples, eram a maior alegria do ano. Os meus olhos de criança brilhavam como nunca enquanto a estrada passava a passos largos.
Como me faz bem pensar naquelas longas viagens. Risadas, músicas, pessoas novas pela estrada, frango com farofa, e boas histórias no final das contas. O abraço na rodoviária, o choro do reencontro, o tempo juntos, os colchões espalhados pela casa, o tumulto na hora do almoço, o violão soando hinos ao Senhor, e aquele sentimento de esperança no coração. Tudo isso fazia parte de um ritmo quase que litúrgico, de afeto, aprofundamento das relações, afirmação, aprendizado e crescimento.
As vianges de hoje são menos interessantes. Aviões não nos deixam ver a estrada. São pontuais. Conectam cidades como se fossem pontos apenas. Rápidos, eficientes e eficazes, cumprem o papel com excelência, mas sem sentimento, sem memória. Hoje, preferimos o conforto e a privacidade dos hotéis, não mais dos colchões na sala. Optamos pela velocidade, pela pontualidade proposta. Somos a geração mais consumista que a história ja conheceu, ávidos pelos destinos finais, pelos produtos que o mundo oferece. O que aconteceu afinal?
A história do povo de Deus é a narrativa de uma constante caminhada, de uma marcha constante, rumo ao relacionamento com Deus. Diante do Mar Vermelho, com o Egito para traz, e o grande desconhecido pela frente, o Senhor comissiona o povo a marchar. Diz ao povo para andar rumo às águas, pois elas certamente se abririam. O movimento não para, Deus nos convida a caminhar.
Esta jornada à Canaã durou quarenta anos. Não foram dias apenas, mas anos de intensa relação com Deus. O Senhor não foi pontual com o povo, antes foi relacional, pois a jornada os preparou para o futuro. Deus estava formando um povo, uma nação ecolhida pelo próprio Senhor. Estava preparando o caminho, desde o princípio, para a vinda do Filho, para a plenitude de todos os tempos. Por isso, mais importante que o destino, é a jornada, pois no caminho somos amadurecidos.
Muitas vezes somos frustrados por objetivos não alcançados, oportunidades perdidas, quebras de processos e sonhos não concretizados. Nos angustiamos com a perda, e nos debatemos diante dos limites e impossibilidades. Somos pontuais, queremos o objetivo final. Deus, por sua vez é relacional, e ama a jornada, mais que o destino, pois no caminho é que somos forjados para a vontade de Deus. Enquanto vivemos, somos aperfeiçoados, tanto nas vitórias, quanto nas derrotas. Aprendemos com o sorriso, e com o choro, na alegria e no sofrimento. Em tudo somos mais que vencedores, pois a imagem de Deus está sendo construída.
Minha esperança é que aprendamos ver a vida com o olhar das crianças, que se satisfazem com a jornada tanto quanto com o destino, que mesmo sem entender, percebem que a vida é um grande movimento constante, de alegria e aprendizado. Minha esperança é que o nosso coração compreenda que, no caminho Deus está conosco, nos mostrando as paisagens da vida, nos ensinando a ama-Lo e a amar as pessoas ao nosso redor.
Que 2011 seja assim, um movimento de Deus em nossas vidas, e que a gente desfrute de cada momento, como um presente de Deus, mais um passo no caminho para o céu.
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